sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Parir de clarões

O ano vai se diluindo nesses dois últimos minutos da minha canção preferida. Meu dedo retém dos seus lábios as ilusões, palavras e planos que depois são postos em fila no rodapé do nosso lado mais vermelho. Vinhos baratos, beijos intermináveis, peles. Nos absorvemos até a última gota. O ouvido se entorpece e nos tornamos platéia do magnífico raiar de sóis que somos a sós, mas continuo esperando no portão.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

.

carmem já sentia na pele o gosto dos anos. Teve goles de desejo num tanto grande de amor. Seus pés já haviam se casado com esse quintal infinito, afinal a cidade era grande e seus lábios, mel. Ela caminhava por parágrafos e parágrafos até seus ouvidos não aguentarem mais. Deixou os pais numa tarde normal de domingo e dalí partiu para dentro de sí, foi trabalhar alí mesmo, naquele café pouco refinado para descolar alguns vícios de mesa mais tarde. Um dia viu um belo rapaz chateado com o jornal debaixo do braço lamentando seus dias iguais mergulhado totalmente em talheres e porcelanas. Descobriu alí mais uma página, mais uma saudade pra cantar.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ai,

cores na tentativa frustrante de me sentir pelo menos uma grama melhor.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

um leve frio

A beleza de estar sozinho é se acomodar na sacada e ver a monstruosidade de bares, igrejas e cemitérios que percorrem a calçada. São coisas que me teêm de forma opaca e suja, infiltrações diluídas que um simples copo de água não me faz esquecer.

sábado, 25 de outubro de 2008

Uma rosa deixada no fim do palco

Todos os dias, um novo fio de graça tece meus mais belos fins de tarde. Pegar um ônibus, sujar a mão, voltar com fome, tudo igual com pequenas graças apaixonantes até a noite explodir sensações.
O vento arrepia,
O sonho continua,
E mesmo que a chuva me traga dores e o sol me acorde cedo
Se quiser alcançar minha mão, estenda a sua e me ensine a sentir seu rosto mais uma vez

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Raízes

As formas das nuvens formam esqueletos guerreiros de espadas na mão.O sol agora vira bolha e não deixa meus demônios dormirem, a luta que se trava estala gravetos e mergulha em meus porões. Uma guerra, um farol, minha alma.

"Minhas casas, ao longe, e a solenidade de minhas idas e vindas me fazem e refazem em versos de mim.É nesse leve balanço dos tremores de estrada, em busca do amanhã, que saboreio as saudades de um futuro meu, se abrindo em leque.
Apesar de tudo, estou no centro de um destino de fábulas.
Apesar de tudo, sou mar.As ondas quebram em cor, enquanto outras vêm pra recompor seus hiatos."

Luis Felipe Leal em aspas.

sábado, 9 de agosto de 2008

o mundo brilha e poucos giram

O cheiro do ferro umidecido me entorpecia ao ver a tão bela lua se apagar. E é aí que as coisas começam a finalmente fazer sentido, a vida, o dinheiro, os pulsos e tudo mais. Os postes ainda iluminam ruas vazias com suas fortes ondas amareladas, os dias vão devorando as horas e o nosso fim sempre chega. Não quero ser uma lápide gloriosa, nem pétalas secas entaladas no seu choro, apenas bons recortes feitos pelas suas próprias mãos, amigo.

-sinto.

sábado, 2 de agosto de 2008

efeito de desencaixar

O dia foi desaparecendo com a última gota laranja deslizando no horizonte. Da janela ela cantava bonito sentindo o suor massageando seu rosto até a ponta da orelha, longos braços apoiavam seu rosto na certeza de estar sempre alí para sentir seus mais belos fins de tarde. Os olhos devoravam a metamorfose das cores que se desmanchavam com a brisa leve que chegava, era difícil sentir medo, glória ou pavor, aquele momento era único. As batidas fortes recitavam alegres todas as poesias do mundo, nesse momento caiu no abraço da fantasia e se entregou como sempre.
O suor se esfria e o dia desfalece, vejo a certeza como algo inatingível mas fujo como nunca do tédio de sofás e camas pendurados pela casa.

terça-feira, 29 de julho de 2008

ainda aqui

Começo cedo a tentar ser mais feliz, antes que a noite desabe e a cidade se estenda luminoza no meu jardim. Sair e procurar algo para amar é reflexo do limite que a solidão deixou nos meus olhos que hoje brilham intensamente. Peço desculpas a um amor de nome que vem me incomodar a todo tempo, mas hoje eu sinto tédio de ter você que desaparece quando mais dói.

quando? demora, talvez não dê tempo.

"corra! corra, antes que o amor se afaste."

sábado, 26 de julho de 2008

para minha essência

hoje eu não tenho nada nas mangas, nem palavras bonitas pra sentir. queria ir pra longe e conhecer os infernos noturnos que essa cidade abóbora traz na bandeija.
eu que ando chorando pouco, grito por dentro! danço sem par e me sento enquanto a felicidade passa.
por isso que sempre penso o quanto é bom ter uma raiz,
independente de qualquer ilusão
ou dor.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Por dentro

Relembrar seus sopros é como entrar debaixo d’água e arranhar correntezas para de novo sentir as batidas com todo ar e força que minhas mãos alcançam. Talvez a palavra amor não se encaixe tão bem quanto meus olhos, mas digo que ainda me lembro. Quando chega o sono, sonhos me apertam dentro dos braços seus que já estive.
Tudo se envolve e me sinto forte por saber que pelos meus poros escorre você.

domingo, 6 de julho de 2008

metade

é bom viver o meio, sentir as sobras partidas de lembranças e sonhos,
mas sempre falta algo porque quase tudo se fez metade.
estamos sempre dispostos a jogar nossa sorte e nos entregar à vida, passar por bocas quentes, seios confortantes, mãos bem juntas, costas e parede. Tudo passa tão rápido, sutilmente começamos a perder nossa metade, nossos desejos completos, sonhos livres, boas conversas de bar, lembranças do que foi, medos infantís. Parte da fantasia se evapora e a gente suada e amordaçada pouco ou nada vê.
A vida foi lançada e talvez nada mais tenha volta mas não me solte agora, me deixe ficar mais um pouco.

domingo, 22 de junho de 2008

linha amarela

Passos até a esquina funda da pele, comentários vadios tremem os pés de Clara na calçada, mas ela ainda procura algo. Nada existe além do frevo entopido de festa que a desintegra na calçada, por isso prefere a rua. É... a rua, que escorre o pavor de tudo em suas pernas magras de tanto desprazer, ela se modela a cada dia e vai bem na escola, mas seus passos são tristes, seus óculos ficaram fracos e o coração já não aguenta mais. Tudo e todos continuam falando, cantando e buzinando, continuam a irritar suas palavras e tentam estupidamente decifrá-la sempre.
Todos os seus gostos, desejos e mágoas estão escondidos e ela teme não sentir nuvens. Já faz tempo que ela não consegue chorar, seus pesadelos estão devorando algo que ela nem sabe o que, mesmo assim não chora.

Semana passada uma luz encharcou seus olhos e ela pôde entender suas dores mais claramente. Um copo de vinho e seu cigarro de sempre te fizeram sonhar de novo, se jogou nas margens curvas da morte e finalmente chorou seu inteiro coração. Foi um suspiro, o suspiro... soltou os braços e se entregou a uma ponta afiada de aço. Deus te negou o sopro.
Clara escorreu até o meu canto negro acabar, te olhei nos olhos e ví o vazio de não ser o que se é amedrontado pela beleza do óbvio.
Sangue, vida e pavor.
Tédio, ódio e tristeza.
Agora chegou a hora de tudo escorrer. Derreter as marcas do berço, a menina que tinha as mãos no bolso, sonhava com árvores até tudo se implodir e o oxigênio faltar. Agora ela não passa de uma lápide no cemitério vizinho onde se transformou finalmente em simples palavras que resumiram toda uma vida evaporada em minhas mãos.
Clara fica lá dentro e tem dias que ela recussita meus medos,
não consigo mais chorar.

domingo, 18 de maio de 2008

Liberdade pela manhã

Acabo de terminar um doce e suave café. Da água doce fervente até meu estômago, contei segundos. Cheguei a pensar na loucura de tanta felicidade nem existir, mas agora a xícara está vazia e há outras louças para lavar. Sem tempo nem nexo, desilusão. As coisas que começam sempre terminam e o amor que me esperava, de novo não foi me buscar. O que existia, nunca existiu e o que sobrou de mim foram borras no fundo.
Sente-se aqui meu amigo, pegue uma cadeira e deixe sua garganta me encantar, continue a dançar a noite toda, me liberte até sempre sentir suas maravilhas, meu desconfiado coração. Caminho pelas infinitas explosões desse seu tom sem fim.

Mas agora, levante-se! chegou a hora de limpar panelas e preparar meu jantar, minha sobremesa e outra janela para amar.

domingo, 13 de abril de 2008

Entre o céu e o asfalto

Já fazia muito tempo que eu não tinha aquele fim de tarde.Tentei descrever o que sentia,

traguei novamente.

O céu cantava bonito e meu coração se deramava, um velho amigo me confortava e cantavamos no asfalto. Era bom e era o fruto, me deparei com tudo que tenho lá dentro e pela primeira vez não quis ir embora. Vaguei, senti e me estiquei. Talvez um dia eu entenda tudo isso.
O tempo vai me arrastando e já sentia muita saudade daqui, acho que volto um pouco crua mas nada nada vazia.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

pele

O tédio ia penetrando
Invadindo cada poro
Enraizando-se nos músculos
Sentia os desejos se avigorando,
Me espalhando em mil
Amarrando cada pedaço com cores fortes
Sensualizando meu pescoço
Me fazendo sentir cada laço
Dores pequenas, espalhadas em meus dedos
Deglutia desejos.
Desejos de suprir o gosto,
De eternizar simples coisas
De fazer brilhar aquele arrepio de novo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Exercício prévio

Uma estranheza de felicidade me atenta nessa estação.

Virei burro de carga e funciono ao alarme do prazer, talvez uma hedonista frustrada ou uma bomba na película de algum coração, isso me cai tão bem. Mudanças pequenas viraram açúcar no café, essa semana tudo vai começar a ser cachoeira, não daquelas que a gente encontra a trinta minutos daqui, um segundo é suficiente e já estamos lá, um fechar de olhos, um abafado fôlego. Isso é tudo e bom. Dá vontade de ficar mais tempo de pijamas, me imaginar além dessas paredes, não ter mais medo, receber mais flores de um amor sincero e ter mais uvas pro jantar.

Beijo meus ombros e mergulho nesse labirinto, pra poucos e pra sempre.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Foi

Minhas sete almas que choram
Gotas dessa nuvem adotiva.
Que só me fez derramar
Os encantos que não pedi
Perdi.

O caminho foi imenso
Cheguei lá sozinha,
Perdi seus braços na curva
Vi da janela, a lua amanhecida.
Triste e fina.
Como se ela chorasse meu rosto.
Abriste a porta com receio,
Olhos turvos e mudos tragando a casa fria.

Quero me apoiar tranqüila.
Minhas inquietações são vazias e suas.
Sei que feri as rosas no seu leito
Mas agora tens asas maiores

Mergulhei nos canteiros dourados
Te tirei de dentro
Cortina fechada.

Meu coração anoiteceu.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Vida em sol

Como escultora dos meus dias,vou me submetendo à dores menores.
Passeando sangue,doendo vitórias.
Devoro sílabas escorregadias,troco de pele e me rasgo em torpor.Fecho um de meus olhos para não doer tanto.Ainda sim sinto o peso, mas me desvio em verdes fábulas de criança,em pares.
Plano em vida e encontro o desamor completo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

''Auf Achse

You see her, you can't touch her
You hear her, you can't hold her
You want her, you can't have her
You want to, but she won't let you
You see her, you can't touch her
You hear her, you can't hold her
You want her, you can't have her
You want to, but she won't let you

She's not so special so look what you've done, boy

Now you wish she'd never come back here again
Oh, never come back here again

You see her, you can't touch her
You hear her, you can't hold her
You want her, you can't have her
You want to, but she won't let you

She's not so special so look what you've done, boy

Now I'm nailed above you
Gushing from my side
It's with your sins that you have killed me
Thinking of your sins I die
Thinking how you'd let them touch you
How you'd never realise
That I'm ripped and hang forsaken
Knowing never will I rise
Again

You still see her
Oh, you hear her
You want her
Oh, you want to
You see her
You hear her
You want her
You still want to"

Resolvi postar essa primorosa música porque suas estrofes se encaixam muito bem no meu coração.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Meu querido joelho esquerdo

Fui ao médico hoje e descobri que tenho tendinite (inflamação de um tendão) num músculo chamado pata de ganso que é composto por três tendões. Agora tenho que: levar injeção, tomar remédio, colocar compressa quente algumas vezes ao dia, diminuir o ritmo na academia, voltar para a natação, parar na matança de monstros, ou seja, mais sofá e menos pulos de corda. Uma chatice danada! Mas já que é assim, aproveitarei o tempo para fazer meu enxoval, começarei com o bordado e com a fantástica sessão da tarde.


*Conselho: meninas, quando temos algum problema o qual nos obriga a ir ao médico de saia, não vão sem um chortinho por baixo, não é nada legal (acreditem).

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Néctar

O toque da cafeteira gritava. Demora um pouco a se levantar, o braço se estica. Só há travesseiros e saudades de um tempo que nem foi. Vai para o banheiro e sempre de lá, olha durante longos segundos a sua cama vazia, sente a solidão do arredondado espelho e não faz a barba. Desce as escadas de samba canção, camisa cinza e um nó desleixado no roupão. Escorrega levemente os óculos até a ponta do nariz pra ver se o jornal já chegou e não tem um cachorro.
Sua cerca é branca, a caneca é a de sempre e o café, igual e sem açúcar.
Começa a ler o jornal colocando mais farinha no mingau pra engrossar, nunca se preocupava com o tempero, sentia necessidade de doce, mas achava enjoativo. Senta, olha em volta e suspira. Nunca gosta do mingau...
Ele quer um amor, mas já se sente perdido. Se sente fraco por deliciar pimenta barata, exige bastante do sexo oposto, mas se sente amedrontado e se bloqueia. Namorou uma ou talvez duas, quase amou. Mas nessa manhã, de céu flutuante, de galhos no vidro, ele só pensa nela. Ela que ele não sabe quem, pouco conhece, mas sente que esperou sempre por isso. De algum jeito ela estava sempre lá, nas músicas, nos lençóis, na infância, no gosto de morango e no seu medo. Acha difícil esquecer o sentimento vazio que parece afogá-lo em desgosto de nunca ter, quando deseja, a pele quentinha por entre os braços. Insiste sempre na idéia de nunca alcançar um verdadeiro amor correspondido, as cicatrizes mal o deixam tentar e então se esvai a essência de seu próprio gosto. Um aborrecimento por todo seu ego.
Acha melhor não se expor e termina contendo seu berro sufocado.

E quando o sol de novo vem, sente-se cavando na alma o desejo de sentir um ligeiro bom dia na orelha, contudo
o tudo se cala.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

vou esperar quietinha o bafo doce da manhã que vem

o meu ontem que não foi testa o próximo sol da semana,
a gente nunca descobre mas busca sempre
e sempre me lembro...

cortarei minhas unhas e levarei noites mais tranquilas e leves para o meu pouso.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Melindrosos passos

Margarida se afogava de espelho
Maquiava-se triste na sua vazia porta de estrela.
Ela bailava as noites de um pequeno bar.
Planava em roupas compridas e extremamente brilhantes,
Panos soltos que prendiam sua fina cintura de manequim.
Fitava os olhos para o fim escuro do salão,
Não queria mostrar suas dores.
Palco pequeno que minimizava longos sonhos de menina.
Ela só queria voltar a sentir a pele do amor contido
Havia horas em que sentia perder a respiração,
Lembrava,ela...
Acariciava porcelanas penduradas,quase chorava.
Sempre perdida e vazia lá dentro.
Tosse que sangrava sua garganta,comprimidos inertes
Bem quieta ela esperava o sopro negro invadir sua carne.
Fraqueza impalpável.
Mas não sabia ela que no fim do corredor existia um par de olhos incendiados.
Ele contemplava seus movimentos,a poetizava toda noite.
O amor se refazia a cada passo da menina,
Seu bailar embebedava o singelo rapaz.
Ela rodava suavemente leve.
As notas acompanhavam perfeitamente cada movimento de seus pés.
Agradecia o público em um inocente cruzar de pernas,
Alí chegava seu fim de noite.
Ele pensava em dizer suas doces palavras,mas se perdia na figura feminina.

Atraso da apresentação da moça,
Minutos e minutos
Inquietações de desespero no fundo do palco.
Um velho acenando o fechamento do bar.
E então num turbilhão de idéias negadas, correu para a moça.
Viu seu vestido pela fresta da porta
Lá estava ela,linda e pálida num sono eterno
Lágrimas escorridas em um copo envenenado de dor,
Sonhos quebrados.
O rapaz a abraçou forte,
Lhe beijou a boca fria e se despediu também de seu coração.
Agora só sobraram folhas de papel e gaveta,
Casa vazia,cigarro e álcool
Explosões poéticas de um peito amargo
Mãos escorridas de um velho amor,patas de leão.
E em seu frágil pulmão,ele eternamente procurava o caminho de casa.

o tudo que ela sempre muito sente

O som percorre baixo pelos seus ouvidos e feito boba, ri sozinha quando se lembra e o Chico quase sempre a faz chorar.
Se batiza na sua banheira
Na ponta dos dedos, percorrem vagarosas gotas que conduzem ondas que afogam todo seu corpo em um leve frescor sensível.
Adora cantar embaixo da água, sentir na língua o gosto infame de todos seus pecados perdoados por ela no fim do dia. Mente sentimentos de forma livre e egoísta, mas nunca consegue evita-los.
E nascem amores... O coração se espreme.


Talvez ele sinta a falta dela. Uma vontade de rever a menina mesmo que o seu coração nem esteja assim tão cheio, voltar às lembranças gostosas de mastigar...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Anatriste

Ana era.
Poucos choros e intensos risos,
menininha que baila vida,que samba o coração.
Mas e o ralo?

A mantém,a adoça
Esvazia um mísero pedaço de você em sílabas.

Mas,hoje.

Hoje ela acordou sem nada,bolsos vazios.
O olhar recuado na janela esconde sua lamentação de perda.
Tudo me vai tão rápido
O barulho de folhas secas corre a calçada
Os carros correm
Corremos dos encantos
E o amor vazio de nossos pés?
Como ludibriar afeições eternas?
Fechar o livro e atender a porta
Sentir amores de noites estreitas
Tanta vida despertada por meios externos,
Golpes de cores que bailam meus sonos
Marcas vivas,coração falho e flor.
Me descobri fraca,pulsação frágil
Foi um dia qualquer,simples como um abrir de janelas
Senti morrer.
Veias lentas,a vida me pareçe tão longe
Meus velozes sentimentos me lembram ares puros,
Sei não gozar dessa marca súbita
Vou levando em tortuosos passos essa minha dor sem fim
Fazendo malabares para tranquilizar os dias
Caminhando tão bêbada mas ao mesmo tempo tão vazia,eu vou enxergando minha pele rasgada em lamentos.Longa espera de sentidos amargos.Seguro esse aperto e me vendo sorrisos à espera de um futuro bom e breve.