sábado, 28 de novembro de 2009

Ou não,

Estou no meio de um vasto deserto. Um deserto dourado-quente. Há poucos animais brilhantes por aqui, a seca atrai os que têm pele grossa, normalmente os répteis. Sinto um desconforto e de longe eu vejo o horizonte dançando no vapor quente da areia. Estou aqui só para observar, não saio, não falo, não tento; observo. O sol forte me enruga a testa e o lábio superior. Não me dá vontade nem de chorar. Continuo observando. Penso que hoje já não há alguns prazeres de antigamente, ter paciência. Cresci e não espero cicatrizar, os sucessivos cortes anestesiaram o meu corpo. O deserto dourado está cada vez mais quente e calmo, insuportavelmente acolhedor. Sem bússola eu sigo pra lugar nenhum. Isso me acalma, me avermelha. Quando ando, uma pluma desce de leve sobre meu rosto pra me fechar os olhos, paz que passa, sempre passa. Cada vez mais longe, cada vez mais perto.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

os percevejos de marfim

os percevejos de marfim são criaturas fantásticas! eles adoram o odor vivo que os seres humanos exalam pelas virilhas afora e é por isso que eles sempre aparecem quando a gente menos espera. aos poucos eles vão se infiltrando nos vasos sanguíneos, sugando muito lentamente toda nossa energia. os cabelos vão ficando brancos, a pele começa a sobrar, a visão embaça e o amor passa. tudo por causa dos maleditos percevejos de marfim que insistem em nos subtrair. não temos força suficiente para fazê-los parar, eles são intravenosos, por sorte temos prazer em sermos macerados. quando chegam ao coração, as meretrizes embalam a meiose e o fluxo espalha os percevejinhos de marfim até as falanges, dá até vontade de enfiar o dedo na garganta, mas estamos totalmente dominados pela preguiça de vomitar bolas de pêlos e então morremos engasgados.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

santa paciência

ele já está bem baixo escorregando de leve no oeste celestial. olheira suada e olhos perdidos, mais um dia de ônibus. a mãe de três carrega as malas dividindo as sacolas com as crias escuras, minha cabeça dói antes mesmo dela me acertar com a porra da mala. está sendo um dia cansativo. a impressão é de estar renunciando o regaço da mãe ao me sentir tão medíocre, mas eu acho que tudo bem, essa vida de vontades vai passar para que finalmente eu possa ficar mais perdida ainda. e agora, maria? você vai ficar pra titia! risos sinceros.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

paz no fim do dia

O céu se debruçou encharcando a cidade feia. Começou bem leve, pingava pouco, mas a cortina cinza lá na frente anunciava o encontro desastroso de pneu, água e velocidade. não deu outra, o caminhão capotou, a moto e o carro rodopiaram e meu sangue, derme e cérebro se misturaram. meus ollhos foram triturados criando uma camada quente cheia de pequenos cacos de vidro que descia devagar até chegar ao meu ouvido, havia carne queimada grudada no motor, pedaços pra todo canto, carros e mais carros paravam pra degustar o espetáculo. sentí línguas esfomeadas passeando pela massa densa que sobrou de mim, fui vagarozamente toda digerida pelos animais da estrada, os motoristas.

sábado, 19 de setembro de 2009

mesa verde de café

eu acordei mais cedo e fiquei olhando pra cadeira torta do computador. lembrei dela rindo alto e jogando a cabeça pra trás como cenas estranhas de um filme antigo, linda. mal dava pra acreditar que ela tinha ido embora e eu nem ví, a gente tava meio bêbado e ficou planejando a manhã de café juntos, ela adorava fazer o café pra gente, ia pra cozinha bem devagar com medo de me acordar e estragar uma suposta surpresa, mas aquele cheiro de café que era simplismente dela sempre me acordava, não havia jeito melhor de amanhecer, eu me esticava e um sorrizinho era inevitável. eu pensava que.
fui almoçar pensando naquilo, corrí para o quarto, tinha lembrado que antes do filme começar ela se queixou dos brincos e os colocou em cima da mesa porque sua bolsa estava longe, fui lá olhar na certeza que eles estariam alí exatamente na mesma disposição em que ela os debruçou. mas não, ela não havia esquecido absolutamente nada! nem os cds. nosso namoro nunca esteve tão silencioso e ela tão perdida. lembrei de quando ela passava a mão de leve na minha nuca enquanto eu dirigia, soprando bem leve don't think twice, it's alright.

oi?
oi, zé
...
...
onde você vai almoçar?
mais tarde eu passo aí, beijo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

no final daquilo tudo fomos



_meu amor?
_estou bem, estou bem
_ah! chega dessa chatice de sempre, porra!

_mas o que foi? que stress é esse?
_... eu estou cansada e com preguiça de você
_ué,
_ah, esse falatório que nunca chega a lugar nenhum!
_mas a gente precisa de...
_a gente precisa de muita coisa, muita coisa, não consigo te alcançar
_por que você quer isso?
_porque eu já cansei, tá ouvindo? cansei! cansei! encheu meu saco, não dá mais
_você é a única pessoa que pode fazer isso,
_puta merda! será que você não pode ao menos tentar me ajudar, caramba, esse cansaço está me matando! minhas costas estão piores e minhas tardes também. eu sinto uma saudade que não passa, um corte que não quer sarar! _____ tão só...
_mas então?
_eu não consigo, não quero mais conseguir.
_vá embora, menina, você precisa.


embora e eu fiquei matutando, pra que fingir tanto se sempre é assim, a gente chega tonto fedendo cigarro e sozinho. descobri que é assim, no fim da noite sempre estamos todos perdidos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

de volta

No ônibus as pessoas são macacos. Viram macacos ou já são macacos, desconfio. Infernal e suado empurra empurra, um bafo quente que dá nojo. É a pressa, jantar e novela.
Mas enfim, decidi ir de carro pra chegar mais cedo. O asfalto novo dava potência aos pneus que abafavam o barulho do motor. Emitia um barulho seco que me acalmava. Tive a impressão que eu bateria o recorde naquela BR tão lisa e comprida. Era como se uma linha contínua me acompanhasse, ela seguia cinza e veloz alimentando aquela engenhoca quente que pedia água. Enquanto isso as pedrinhas soltas sambavam na lataria lá atrás, pequeninos arranhões,
meu pai nem vai notar
.
Acelerei.
Meus pés se afundaram naquele pedal, eu estava sob controle absoluto. Deslizei as mãos devagar sobre aquele volante, um giro suave que acariciava paciente aquele couro vagabundo. Uma troca justa, carícias por fundos goles de velocidade.
Me sentí o Slash masturbando sua Les Paul amarelo-laranja. Meus caninos rangiram como um paleolítico. Fiquei vidrada, não queria mais parar, o coração tentava brutalmente desatar meus seios do sutiã até que uma gotinha minou entre as pitombas e desceu levemente fria com o vento que passou. Olhei no retrovisor e começei a cantar (e alto) dei gargalhadas, debochei da vida abrindo bem os olhos pra qualquer erro fulminante, debochei do amor, da minha auto piedade e mordí o meu braço até lacrimejar, mais uma tatuagem, baixo relevo circular de pequenas piscinas roxas de sangue, leão e zebra em mim, leão e zebra de mim, é muito gozo pra uma simples thais.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Prelúdio sexual

Uma fêmea no cio, era madrugada. Aqueles dois brutamontes sentiram o cheiro de longe e vieram conferir. Eles a rodearam, cheiravam a situação dando socos no ar com o fucinho, até meterem a cara e lamberem a vagina da cachorra, aquele leve inchaço e a textura quente daquela elipse triangular incitava cada vez mais seus instintos. Ao se esbarrarem, rangiram os dentes, tentaram afastar o outro com mostras animalescas de dentes e pêlos, naquele momento os três sabiam o que estava prestes a acontecer. Fazia frio mas a excitação do quase coito trouxe um fervor maldito aos olhos daquele marrom cão, o outro branco de manchas pretas arrepiou os pelos do pescoço parecendo um leão estranho, mas o tamanho e a persistência dominante do marrom separou numa única bocada sua orelha em duas. A luta começou, a raiva e excitação dos dois cachorros travaram um combate brutal, eles ficariam alí até que um morresse. Longos dentes pra fora, baba excessiva, olhos carnívoros, uivos de dor e ódio. Uma coisa curiosa de se presenciar, deixaria qualquer um de olhos estáticos. Eles rolaram na rua por alguns minutos até que o marrom dominasse a situação, debruçou as patas sobre o peito do manchado que estava de barriga pra cima, e ficou latindo forte, dava pra ver aquela baba descendo até a boca do outro. eu ganhei! vá embora, fraco! as crias levarão o MEU xy porque é o mais forte . Em poucos segundos o manchadinho virava a esquina mancando. Agora era a vez do mais forte, chegou a hora das batatas. Todas aquelas dentadas valeram, o desejo natural de fecundar diminuía a dor dos cortes. A fêmea olhou pr´aquele brutamontes marrom que recuperava o fôlego numa tosse seca agoniante, ela só podia esperar e assim fez.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

cedo na cidade

eu bem que queria dormir até mais tarde mas ela não deixou. entrou e ligou a luz na minha cara, me virei pra tentar de novo mas a merda tava feita, perdí o sono. quando eu estava quase dormindo um leve vento se esfregou em minhas pernas, um friozinho bom que massageou meus pelos ouriçados e minhas células que felizes dançavam no trepadouro epider mau até que eu finalmente pudesse.

sábado, 1 de agosto de 2009

quando se procura

a insuficiência é linda, a carência também. quando dois ou mais se encontram há verdades possíveis. a pureza sarcástica de um ser que chora porque tudo o que se sente sobra é um imã. essa fragilidade que obriga um cigarro comprado e acabado ontem. que sede de necrose é essa que dá tanto gosto de abusar da vida? um gosto visceral de dois secos que se tornam atores sinceros,
gosto de verdade deve ser um cobertor de beijos.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

pingar-me

esse nojo, esse gosto de sal. você me vem com esses dedos sujos e me implora com os olhos. ninguém viu o seu perdão e essa casca que você vestiu vai apodrecer o que em tí há de mais importante, as cicatrizes. não adianta, eu sou uma dentadura bangela, um pente sem fios, a escolha de se encaichar será nossa, não me escorra pelos dedos. algum dia eu choro de novo, em algum mundo eu vou acender devagar meu cigarro e parar pra observar. vou diluir meus sentimentos e essa dor terá um belo gosto de sangue e carne. estou sendo servida como brinde aos deuses mais patifes, minhas dores e gritos explodem, me devoram com prazer até se empanturrarem. meu coração anoiteceu para que eu possa finalmente amanhecer em mim. me deixe ser seu coma, seu sapato, um filtro, seu lar. alguma coisa aconteceu, a gente pode sentir, não fuja, não me solte agora. essa falta de ar não irá me matar e nem essa saudade.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

hoje são eles

hoje, 20 de julho, dia dos amigos. Amigos... verdadeiros amigos são pessoas tão fantásticas e deliciosas, não importa se você não tem grana, precisa de carona ou ombro. eles são como bons irmãos que conhecem sua mãe, abrem a geladeira, ficam em silêncio sem soar constrangedor. Viajam juntos ou mandam fotos por email, criam blogs juntos, fazem faculdade longe, sofrem de amor pra você, fazem presentinhos, ligam, mandam mensagens, gastam seu crédito, te reprimem quando você exagera, emprestam roupa, dizem que as coisas vão melhorar te vendo derreter segredos. cada amigo tem seu gosto agridoce, esses diabinhos me encantam e todos os meus são os melhores.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Trinta de junho

prestes a ter vinte anos a menos, fico pensando muito na mesa da cozinha. 20 anos, 20 anos, 20 anos! por deus! esses dias eu tinha dezessete, acabei de ter dezoito, porra! tenho 19 e terça feira vou fazer 20. oquei, eu sei, sou muito nova ainda mas "tô num perrengue danado".
se eu não morrer até lá,
bom que eu consegui chegar nos vinte, lembro de quase todos os aniversários, alguns eu fugi, outros eu digeri as festinhas.
é...sempre me imaginei estar com uma pessoa bacana ter um filho aos 20, 20 e poucos e morar juntos, mas me atrasei, cheguei nos 20 solteira, meio desempregada, cada vez mais canceriana e ainda não gestante. as coisas mudaram, agora eu tenho que estudar, passar mais horas na frente desse computador, viajar, meu mp3 sumiu, acho que o joelho deu uma piorada e andar de bicicleta nem tem tanta graça mais. na verdade ando meio sem rumo, quero tanto mas os objetivos ainda são planos para a próxima crise, dos 30 quem sabe. até lá eu tenho que.
agora é férias! que saco reclamar tanto, ter tanta pressa pra tudo, isso me irrita. me dê um abraço bom que eu cuido dessa bagunça.
é inevitável deixar escapar as texturas desses vinte anos tão belos, chatinhos e bobos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

me trague de volta

são tantos os cheiros: shampoo, sabonete, perfume, hidratantes, papel higiênico, o cara ao lado, a fumaça do caminhão e gasolina. tudo está ficando cada vez mais fedorento e sujo, é difícil sentir o que eu realmente quero. esses cheiros atiçam minhas mil alergias. remédios, remédios e remédios. eu quero sentir seu verdadeiro perfume, ouvir as longas conversas que sempre me faziam rir, preciso da sua verdade porque era quase onze e eu fui sincera. "shampoo" é uma palavra tão estranha, meu olho está quente, tenho que terminar projetos de conclusão de semestre, juntar dinheiro, deitar na rede pra ver as árvores balançando, ler um romance até dar aquele soninho gostoso e dormir igual bebê, mergulhar de vez.

terça-feira, 9 de junho de 2009

12 de junho

chegou a hora de gastar (com o novo gargarejo da boticário feito pra beijar), mamar dedo ou voltar pro bar. tive um único dia dos namorados namorando, foi um dia completamente normal. saí com grandes amigas. não poderia ser melhor, cantamos, rimos e falamos besteira até perder o fôlego. os presentinhos depois foram bem bacanas, feliz dia dos namorados aos não-solteiros, não se esqueçam das coisas que não se deve esquecer e feliz noite de sexta aos meus companheiros.



segunda-feira, 25 de maio de 2009

são só

como? acho que pelo cansaço e pela preguiça. aqui é exatamente o lugar para descobrir o estranho. como? mas como? viver rápido se tornou inevitável, estamos com pressa, então não me venha perguntar como porque você sabe.
Todos querem mas são tão fúteis que não conseguem apenas ir. o resto que se foda, nossa imagem não é mais assim tão genuína, é simples, as coisas são assim!
somos simples e altamente voláteis.
mas não se preocupe, eu sou pior.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

nessa vidinha

finja que você não sabe que não falta muito para se tornar completo. se recolha para pegar tudo o que precisa.
trair, esconder, rasgar, fingir,
estamos perdendo nosso jogo favorito.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

meu coração está explodindo no meu ouvido e eu não quero mais sentir

me deitei no chão e quando percebi que ela tinha acabado de entrar no quarto, fechei os olhos. o tapete é branco e macio, eu estava confortável até aquela menina chegar. ela se sentou na cama do meu lado, começou a roçar as unhas ásperas do pé levantando minha camiseta e cantando baixinho. por um momento fiquei estático, meus sentidos borbulhavam, e num simples movimento de pernas se sentou sobre mim sem mais falas, minha respiração estava afogada, mas depois me senti calmo como nunca antes. me lembro bem de sentir seus seios apertando o meu torax, chegando sua boca cada vez mais perto dos meus ouvidos até aquele estalo ser crucial. posso beijar você? (nessa hora ela suspirou uma risadinha mortal, melhor, diabólica!), me senti meio sem jeito, fantasticamente miserável, eu era o homem mas naquela hora tanto fazia, eu queria e ela já estava. mãos, pernas, cabelos e pescoços, duramos o fim daquela tarde até as três e pouco da manhã. olhei pra ela, aqueles olhos grandes e ameaçados, meio distantes, mas verdadeiros. ah, esse sentimentalismo vai me matar! se eu fosse me casar um dia seria... com certeza seria.
vamos comer algo!
um macarrão?
pode ser, vou tomar um banho rápido
você não precisa de um banho!
juro, baby, será rápido
a abracei mas não adiantou! rimos e de repente ela correu de mim e,
vai colocando a água pra ferver

quarta-feira, 6 de maio de 2009

isso

um dia eu vou dizer tudo o que eu sinto, serei sua amiga ou amante. teremos tempo e na sacada eu vou te contar os detalhes bobos da distância, e como é acordar sentindo.
mas não me pergunte sobre. não sei de nada, só que amo comer maçã.
não seja mais paciente! me esbofeteie e diga que maçã é você.

terça-feira, 10 de março de 2009

alguns trocados no sul

um gole igual de ovário, sim, gêmeos. quando ela saiu do banheiro resolveu não tornar as coisas mais difíceis e esperou se acalmar. dois filhos... dois filhos! como? era de fato engraçado mas ela não queria pensar. o patriarca bateu no peito, gritou feroz, quis saber qual macho invadiu seu território e o silêncio dela matou as últimas fichas que um dia ele apostou. o pai das sementes havia se soltado da moça, se despencou dos planos.
Aos poucos seus ouvidos, quase calmos, foram diminuindo todas as vozes, ela pensava em os abraçar um dia, mas desconstruíram todo amor que sentia.

Dali partiu para o sul, havia uma marcha alegre que andava por lá, por ser artista, não resistiu. enquanto fumava seus dois últimos cigarros, o vinho amenizava o vento rodoviário e ao chegar, teve o ímpeto de sorrir e sentiu um gosto quente nos olhos como um belo café da manhã, e segurou firme as alças da mochila.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

um par

O relógio tictadeando engole as horas, e o tempo nos torna realmente muito pouco. Ele e ela esquentavam suas mãos noite afora, era como se o peso do mundo se pulverizasse nesses encontros quase inesperados. Existia encanto. Era suave o gosto de lembrar que juntos, o resto tanto fazia. Tinham o outro para bailar inevitavelmente as doces batidas de um peito encharcado que flutua em segredos. "Adoro meus olhos por me emprestarem essa beleza que exalta dos seus risos", cantava ela bem baixinho. Mas viveram pouco dessa saudade, agora só são uma ótima combinação que os divide em dois.
Quando a neblina embaça o fim da estrada, a vida se resume em desvios. Essas memórias não passam de uma ânsia insignificante para quem não sabe cuidar de sonhos reais, tudo ainda se cala pelo medo dissimulado de enfeitar as variações de amor. Chegaram amortecidos no adeus
e
se tudo tem final, espero que esse sentimento
também seque.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

noite calma e longa, comecei a tentar enxergar melhor os pedaços que quando se juntam, pulsam. Aqui novamente e bem sozinha percebi que todas aquelas amoras doces foram cicatrizes de um tempo bom que minha sombra desenhou na calçada. Ir embora, ignorar paixões foi quase uma obrigação mas dalí nasceram coisas enormes que até hoje me beijam as costas. Talvez tudo volte a ser como antes dos festivais das flores, ocupar-se com pessoas medianas sempre fez parte dessa rotina viciante e se a bomba explodir, continuarei deitada olhando meus cartazes escalando as paredes, asfixiada pelo frio de ser uma só.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

sem

"Hoje meu final foi triste", sufocamos nossa paz até as palavras escorregarem naquele constante silêncio. Falávamos sobre fugas, dias incompletos e casais falidos. Levo cicatrizes de tempos bons onde sobrou mais que saudade, ultimamente anda fazendo muito frio e me preocupo com esses arrepios, é difícil sair dessa realidade morna! até dizem que é melhor assim, confortavelmente reprimida, mas não me adapto. Me descobri como uma vela que vai se movimentando aos poucos sem um porto que só quem sente, sabe.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

01:03

um ventinho frio nas pernas e uma vidraça a me namorar. No banco de madeira, eu era a exposição, eu estava à venda e não havia outra mercadoria, todos os olhos eram meus e muitos me acusavam pelo vazio que quase transbordava pela calçada. Meia noite e pouco, meia noite e muitos... uma e três da manhã; atravessei, fui ver, tocar, experimentar até ver o vidro se embaçar ao ter meus sopros tão de perto. Eram flores, uma estreita rua nos separava mas estavamos alí como pedras, paradas, limitando nossas raízes a um pote, sem tempo ou presas, quase doía. O interior é vasto, podíamos ver as medidas desmedidas, mas os suspiros não passavam da vidraça. Sinto largueza nos fios dessa mortalha, o gosto de envelhecer os olhos e quando... sinto o meu pote.