quarta-feira, 30 de setembro de 2009

santa paciência

ele já está bem baixo escorregando de leve no oeste celestial. olheira suada e olhos perdidos, mais um dia de ônibus. a mãe de três carrega as malas dividindo as sacolas com as crias escuras, minha cabeça dói antes mesmo dela me acertar com a porra da mala. está sendo um dia cansativo. a impressão é de estar renunciando o regaço da mãe ao me sentir tão medíocre, mas eu acho que tudo bem, essa vida de vontades vai passar para que finalmente eu possa ficar mais perdida ainda. e agora, maria? você vai ficar pra titia! risos sinceros.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

paz no fim do dia

O céu se debruçou encharcando a cidade feia. Começou bem leve, pingava pouco, mas a cortina cinza lá na frente anunciava o encontro desastroso de pneu, água e velocidade. não deu outra, o caminhão capotou, a moto e o carro rodopiaram e meu sangue, derme e cérebro se misturaram. meus ollhos foram triturados criando uma camada quente cheia de pequenos cacos de vidro que descia devagar até chegar ao meu ouvido, havia carne queimada grudada no motor, pedaços pra todo canto, carros e mais carros paravam pra degustar o espetáculo. sentí línguas esfomeadas passeando pela massa densa que sobrou de mim, fui vagarozamente toda digerida pelos animais da estrada, os motoristas.

sábado, 19 de setembro de 2009

mesa verde de café

eu acordei mais cedo e fiquei olhando pra cadeira torta do computador. lembrei dela rindo alto e jogando a cabeça pra trás como cenas estranhas de um filme antigo, linda. mal dava pra acreditar que ela tinha ido embora e eu nem ví, a gente tava meio bêbado e ficou planejando a manhã de café juntos, ela adorava fazer o café pra gente, ia pra cozinha bem devagar com medo de me acordar e estragar uma suposta surpresa, mas aquele cheiro de café que era simplismente dela sempre me acordava, não havia jeito melhor de amanhecer, eu me esticava e um sorrizinho era inevitável. eu pensava que.
fui almoçar pensando naquilo, corrí para o quarto, tinha lembrado que antes do filme começar ela se queixou dos brincos e os colocou em cima da mesa porque sua bolsa estava longe, fui lá olhar na certeza que eles estariam alí exatamente na mesma disposição em que ela os debruçou. mas não, ela não havia esquecido absolutamente nada! nem os cds. nosso namoro nunca esteve tão silencioso e ela tão perdida. lembrei de quando ela passava a mão de leve na minha nuca enquanto eu dirigia, soprando bem leve don't think twice, it's alright.

oi?
oi, zé
...
...
onde você vai almoçar?
mais tarde eu passo aí, beijo.