segunda-feira, 31 de agosto de 2009

no final daquilo tudo fomos



_meu amor?
_estou bem, estou bem
_ah! chega dessa chatice de sempre, porra!

_mas o que foi? que stress é esse?
_... eu estou cansada e com preguiça de você
_ué,
_ah, esse falatório que nunca chega a lugar nenhum!
_mas a gente precisa de...
_a gente precisa de muita coisa, muita coisa, não consigo te alcançar
_por que você quer isso?
_porque eu já cansei, tá ouvindo? cansei! cansei! encheu meu saco, não dá mais
_você é a única pessoa que pode fazer isso,
_puta merda! será que você não pode ao menos tentar me ajudar, caramba, esse cansaço está me matando! minhas costas estão piores e minhas tardes também. eu sinto uma saudade que não passa, um corte que não quer sarar! _____ tão só...
_mas então?
_eu não consigo, não quero mais conseguir.
_vá embora, menina, você precisa.


embora e eu fiquei matutando, pra que fingir tanto se sempre é assim, a gente chega tonto fedendo cigarro e sozinho. descobri que é assim, no fim da noite sempre estamos todos perdidos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

de volta

No ônibus as pessoas são macacos. Viram macacos ou já são macacos, desconfio. Infernal e suado empurra empurra, um bafo quente que dá nojo. É a pressa, jantar e novela.
Mas enfim, decidi ir de carro pra chegar mais cedo. O asfalto novo dava potência aos pneus que abafavam o barulho do motor. Emitia um barulho seco que me acalmava. Tive a impressão que eu bateria o recorde naquela BR tão lisa e comprida. Era como se uma linha contínua me acompanhasse, ela seguia cinza e veloz alimentando aquela engenhoca quente que pedia água. Enquanto isso as pedrinhas soltas sambavam na lataria lá atrás, pequeninos arranhões,
meu pai nem vai notar
.
Acelerei.
Meus pés se afundaram naquele pedal, eu estava sob controle absoluto. Deslizei as mãos devagar sobre aquele volante, um giro suave que acariciava paciente aquele couro vagabundo. Uma troca justa, carícias por fundos goles de velocidade.
Me sentí o Slash masturbando sua Les Paul amarelo-laranja. Meus caninos rangiram como um paleolítico. Fiquei vidrada, não queria mais parar, o coração tentava brutalmente desatar meus seios do sutiã até que uma gotinha minou entre as pitombas e desceu levemente fria com o vento que passou. Olhei no retrovisor e começei a cantar (e alto) dei gargalhadas, debochei da vida abrindo bem os olhos pra qualquer erro fulminante, debochei do amor, da minha auto piedade e mordí o meu braço até lacrimejar, mais uma tatuagem, baixo relevo circular de pequenas piscinas roxas de sangue, leão e zebra em mim, leão e zebra de mim, é muito gozo pra uma simples thais.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Prelúdio sexual

Uma fêmea no cio, era madrugada. Aqueles dois brutamontes sentiram o cheiro de longe e vieram conferir. Eles a rodearam, cheiravam a situação dando socos no ar com o fucinho, até meterem a cara e lamberem a vagina da cachorra, aquele leve inchaço e a textura quente daquela elipse triangular incitava cada vez mais seus instintos. Ao se esbarrarem, rangiram os dentes, tentaram afastar o outro com mostras animalescas de dentes e pêlos, naquele momento os três sabiam o que estava prestes a acontecer. Fazia frio mas a excitação do quase coito trouxe um fervor maldito aos olhos daquele marrom cão, o outro branco de manchas pretas arrepiou os pelos do pescoço parecendo um leão estranho, mas o tamanho e a persistência dominante do marrom separou numa única bocada sua orelha em duas. A luta começou, a raiva e excitação dos dois cachorros travaram um combate brutal, eles ficariam alí até que um morresse. Longos dentes pra fora, baba excessiva, olhos carnívoros, uivos de dor e ódio. Uma coisa curiosa de se presenciar, deixaria qualquer um de olhos estáticos. Eles rolaram na rua por alguns minutos até que o marrom dominasse a situação, debruçou as patas sobre o peito do manchado que estava de barriga pra cima, e ficou latindo forte, dava pra ver aquela baba descendo até a boca do outro. eu ganhei! vá embora, fraco! as crias levarão o MEU xy porque é o mais forte . Em poucos segundos o manchadinho virava a esquina mancando. Agora era a vez do mais forte, chegou a hora das batatas. Todas aquelas dentadas valeram, o desejo natural de fecundar diminuía a dor dos cortes. A fêmea olhou pr´aquele brutamontes marrom que recuperava o fôlego numa tosse seca agoniante, ela só podia esperar e assim fez.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

cedo na cidade

eu bem que queria dormir até mais tarde mas ela não deixou. entrou e ligou a luz na minha cara, me virei pra tentar de novo mas a merda tava feita, perdí o sono. quando eu estava quase dormindo um leve vento se esfregou em minhas pernas, um friozinho bom que massageou meus pelos ouriçados e minhas células que felizes dançavam no trepadouro epider mau até que eu finalmente pudesse.

sábado, 1 de agosto de 2009

quando se procura

a insuficiência é linda, a carência também. quando dois ou mais se encontram há verdades possíveis. a pureza sarcástica de um ser que chora porque tudo o que se sente sobra é um imã. essa fragilidade que obriga um cigarro comprado e acabado ontem. que sede de necrose é essa que dá tanto gosto de abusar da vida? um gosto visceral de dois secos que se tornam atores sinceros,
gosto de verdade deve ser um cobertor de beijos.