Começar falando da lua é quase um clichê, digo “quase”. Ver a lua é comer a lua, lambuzar-se de lua, sentir o gosto na língua e afogar. Não dá pra ignorar aquele sol da noite arrombando meus olhos alaranjados. Me sinto diferente quando a lua grita assim, meu corpo é muito sensível a todas as minhas ações. Tento ao máximo me concentrar no enredo bobo que inventei para amar alguém, mas ao mesmo tempo me delicio com a lembrança de que amei e que pretendo.
Uma mistura heterogênea de calma e agonia percorre, confunde carne e sensibilidade numa combinação lírico amorosa. A tragédia dos sentidos e a fertilidade da carne. Os pêlos dão passe livre à pele, sinto um vento frio e termino de comer o céu com olhos e estômago vazios.
Num alongamento simples e enervante, escorro meus dedos de uma mão à outra passando pela nuca, completamente maleável. Tendões e músculos se contraem em perfeita sinfonia com os suspiros que só eu escuto de olhos fechados. Uma multidão colossal canta, grita, bebe e brinda num fervor banal e erudita, a chuva no oceano.
2 comentários:
"A tragédia dos sentidos e a fertilidade da carne." Frase massa!
eu senti.
(sardinha)
Postar um comentário