sábado, 12 de janeiro de 2008

Melindrosos passos

Margarida se afogava de espelho
Maquiava-se triste na sua vazia porta de estrela.
Ela bailava as noites de um pequeno bar.
Planava em roupas compridas e extremamente brilhantes,
Panos soltos que prendiam sua fina cintura de manequim.
Fitava os olhos para o fim escuro do salão,
Não queria mostrar suas dores.
Palco pequeno que minimizava longos sonhos de menina.
Ela só queria voltar a sentir a pele do amor contido
Havia horas em que sentia perder a respiração,
Lembrava,ela...
Acariciava porcelanas penduradas,quase chorava.
Sempre perdida e vazia lá dentro.
Tosse que sangrava sua garganta,comprimidos inertes
Bem quieta ela esperava o sopro negro invadir sua carne.
Fraqueza impalpável.
Mas não sabia ela que no fim do corredor existia um par de olhos incendiados.
Ele contemplava seus movimentos,a poetizava toda noite.
O amor se refazia a cada passo da menina,
Seu bailar embebedava o singelo rapaz.
Ela rodava suavemente leve.
As notas acompanhavam perfeitamente cada movimento de seus pés.
Agradecia o público em um inocente cruzar de pernas,
Alí chegava seu fim de noite.
Ele pensava em dizer suas doces palavras,mas se perdia na figura feminina.

Atraso da apresentação da moça,
Minutos e minutos
Inquietações de desespero no fundo do palco.
Um velho acenando o fechamento do bar.
E então num turbilhão de idéias negadas, correu para a moça.
Viu seu vestido pela fresta da porta
Lá estava ela,linda e pálida num sono eterno
Lágrimas escorridas em um copo envenenado de dor,
Sonhos quebrados.
O rapaz a abraçou forte,
Lhe beijou a boca fria e se despediu também de seu coração.
Agora só sobraram folhas de papel e gaveta,
Casa vazia,cigarro e álcool
Explosões poéticas de um peito amargo
Mãos escorridas de um velho amor,patas de leão.
E em seu frágil pulmão,ele eternamente procurava o caminho de casa.

Um comentário:

Lupe Leal disse...

belos melindrosos passos.